Desejo...

Desejo...
Eu sinto teus dedos passeando por todo meu contorno...(clique na imagem)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Barro e o Vaso



Esperei a chuva que não vinha, quando todos já tinham ido embora. As estradas corriam por si só, e, as curvas se embebiam um pouco de ti. O que será desses caminhos quando tu resolveres tomá-los de volta? Não cogitaram a tua volta. Achavam que tudo estava, por fim, resolvido. Mas, eu sabia, sempre soube. Bastava-me uma chuva, uma fina e delgada chuva, que lhe fizesse mais uma vez chorar, e, derramar pelas minhas mãos.

Barro. Barro lânguido, derretido, ganhando vida. Colhi-te assim, in natura, virginal a qualquer sentimento. Era-te sofrível padecer da idéia de que quando não mais houvesse as chuvas que recobrariam as tuas forças para ganhar mais uma vez o teu lugar, as rachaduras iriam tuas feições desfigurar. E tu passarias mais uma vez a ser ignorada, sem qualquer apreço. Mas, ali, em minhas mãos cravejadas dos calos que a vida me fez, residia a tua esperança de se tornar também viva, quando não houvesse das chuvas absorver tuas forças.

Dei-te o carinho que não te davam, olhei-te como nunca haviam dantes. Respeite-te mais que a mim mesmo. Reverti insegurança em coragem. Cantei-te nas noites de tua agonia. Perdi o sono, velando o teu. Sonhei com o teu futuro, ignorei o meu presente. Enchi-te de esperança, valendo-se da minha. Moldei-te a luz de minha alma, calei cada um dos sentimentos meus. E quando a chuva ficou para trás, barro tu já não eras mais.

E todos passaram a te disputar. Eras o mais lindo vaso de que já tinham ouvido falar. Teus contornos eram suaves e perfeitos. Não havia qualquer vestígio de defeito. Objeto de tanto desejo, passaste a valer estimada fortuna. Quem de ti fosse dono seria alvo de grande inveja e ostentação. Tanto que ao brigar pelo direito de te ter, deixaram-te cair ao chão, e, em pedaços desfalecer. Dos cacos ninguém quis saber. Voltaram-se a outros vasos que ali tinham. Eu, que nada tinha por ti oferecer, colhi-te mais uma vez, desfiz tua tez fragmentada, e, dei-te uma nova morada. E foi neste coração que te amou quando ainda barro era, que tu viveste como rainha, bendizendo cada dia desta minha longa espera.

Leonel
(daqui)

Um comentário:

leonel disse...

Nossa... quanta honra, os meus mais dois elementos do blog estarem aqui em teu espaço! Obrigado pelo carinho, e, pelo apreço!

Abraço